domingo, 28 de agosto de 2011

Texto de Lédio Carmona sobre Ricardo Gomes

Desde os 20 minutos do segundo tempo, o clássico entre Flamengo e Vasco perdeu o sentido para mim. Profissionalmente, continuei acompanhando no sofá da minha casa. Mas meu pensamento estava dentro daquela ambulância que levava Ricardo Gomes. Não vou repetir aqui o que estão dizendo a rodo pela internet, twitter, televisão, rádio, jornais, etc… Baita cara, integro, ótimo profissional… Tudo é fato. Ricardo Gomes é de verdade. Carne e osso. Zero hipocrisia. Faz questão de trabalhar no futebol, mas sempre evitou circular no mundinho de falsidade, trairagem e tapinhas nas costas de ocasião, tão comuns na sociedade da bola.

Rezo para que se recupere. Conheço pessoalmente Ricardo Gomes há 25 anos, desde que comecei a trabalhar como jornalista. As primeiras entrevistas aconteceram quando eu era repórter do Jornal do Brasil. Fomos juntos para a Copa da Itália, em 1990. Ele era o capitão. A Seleção era uma bagunça. Perdeu para a Argentina e foi eliminada nas quartas-de-final. No dia seguinte, a CBF resolveu abrir as portas do hotel para a imprensa acompanhar a saída dos jogadores. Quase todos jogavam na Europa e já haviam desertado por conta própria. Ficaram uma meia dúzia. O jardam do Hotel Asta, em Asti, próximo a Turim, estava vazio. Em certo momento, olhei para cima. Numa das janelas, solitário, Ricardo Gomes, que atuava pelo Benfica e também poderia ter saído de fininho, olhava para o horizonte. Parecia longe. Ainda mastigava a dor da derrota. Mas fez questão de esperar o ônibus e voltar para o Brasil com o que sobrara da delegação. Não fugiu, nem saiu pelos fundos. Enfrentou a pressão até o fim.

Ricardo Gomes é referência no futebol francês. Foi campeão como jogador no PSG. Como treinador, no Bordeaux. Em Portugal, os benfiquistas o amam. Certa vez, um jornalista português comentou comigo. “O Benfica deveria contratar Ricardo Gomes como treinador. Poucas vezes conheci alguém que entendesse tanto de futebol, que tivesse diálogo tão fácil e que fosse tão transparente”. Transparência e verdade. Palavras comuns sobre RG.

Desde que chegou ao Vasco, Ricardo Gomes se encontrou. Voltou a ser valorizado e recuperou prestígio. Fez uma legião de boquirrotos sem sentido engolir as bobagens que falavam sobre ele. Acertou o time no Estadual, ganhou a Copa do Brasil, briga pelo título Brasileiro e ajudou a recuperar a auto-estima de jogadores e torcedores. Nos encontramos em várias viagens. Sempre conversamos. Antes e durante os vôos. Posso dizer que nos tornamos amigos. As conversas eram ótimas. Na última viagem na qual nossos vôos coincidiram, estabelecemos uma mesa-redonda interna. E, no fim, ele me disse: “Assim é bom discutir futebol. Com densidade, saindo do raso e do comum. Quem dera fosse sempre assim”.

Pois é: quem dera fosse sempre assim. Com seriedade, verdade, sobriedade e conteúdo. Como gosta Ricardo Gomes. Estou na torcida por você, meu chapa. Que venham novas resenhas. Força.

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