sábado, 11 de junho de 2011

Coluna de Marcelo Adnet no Globo


Vasco!
O campeão voltou. Depois de hibernar durante sete anos, de 2004 até o início deste, o Vasco não deixou o sentimento parar na sua imensa torcida de Norte a Sul deste Brasil. Saiu do armário a alegria e a camisa da Turma da Fuzarca, em todo o Brasil. Natural que durante um período de estiagem sequem as flores e as cores. Os vascaínos andavam tímidos, excluídos das decisões. Ainda assim, o vascaíno não é um tipo frágil e acuado; é forte como o clube, certo na sua paixão, comprometido com o gigante que, mais cedo ou mais tarde, iria despertar.

Já escrevia aqui desde a Taça Rio que este era o melhor momento do Vasco desde num-sei-quando e agora tenho o privilégio de ver a festa de meus conterrâneos, meus amigos e mais um monte de gente que nunca vi mais feliz.

Tudo começou quando cheguei sonolento e apressado ao aeroporto Santos Dumont na manhã de quarta-feira. Quase tudo estava em seu devido lugar. Os executivos e seus gadgets, aeromoças maquiadas, os dois paparazzi - um cara grande que tira foto e uma morena que grava as celebridades e subcelebridades*, todos, como sempre, estavam ali, batendo o ponto. Mas havia algo único e diferente naquele dia. Logo me chama a atenção as diversas camisas do Vasco que se espalhavam pelo saguão. Eu cansado, desmotivado, ao lado de pessoas emocionadas, arrepiadas, ansiosas. Subi para o embarque e, sorvendo um cafezinho com leite escutava, vindo de um dos portões: "Vou torcer pro Vasco ser campeão...". Nunca vi o aeroporto daquele jeito, tão vascaíno. Mesmo com minha malinha que traz o escudo do Botafogo, me sentia em harmonia com aquela galera, parecia vibrar em sintonia com eles, em uma frequência bem menos intensa, é verdade, mas posso assegurar que fui contaminado pelo tal "sentimento". Conversei com alguns torcedores-viajantes e um deles, já dentro do avião, me cobrou - "sábado quero ler sobre o título do Vasco na sua coluna". Aqui está, amigo. Não só aqui, neste caderno, mas em outras colunas, jornais, sites, bancas de jornais, conversas, favelas, palafitas, bares, cidades e, principalmente, na memória daqueles navegadores modernos que foram a Curitiba testemunhar a derrota mais doce de todos os tempos, derrota-vitória cheia de gols, de campeão.

No futebol, aprendemos que a dor do rival da cidade é um alívio para as nossas dores. Para os alemães, "Schadenfreude", para nós, secar muito as realizações alheias, como se isso fosse nos aliviar. Se o Vasco perdesse a decisão, os rivais estariam prontos para chamá-lo de "vice (de novo)", para diminuí-lo, chutá-lo. Mas, volta e meia a gente escapa desta sina da Schadenfreude e tem sentimentos mais nobres. Vendo o jogo, não havia como eu torcer contra o Vasco, não seria bom nem com meus amigos de aeroporto, com quem havia vibrado algumas horas antes, nem com meus amigos pessoais, que merecem a vitória. Yuri, Piero da Vila, Zé Henrique Fonseca, Bruno Mazzeo e mestre Chico, Burnier, Santiago, Marcos Palmeira e Luis, vô do meu afilhado, que passeia como uma criança com a faixa no peito, não a de campeão, isto é bobagem passageira, mas a inconfundível faixa diagonal, a da paixão pelo Vasco da Gama. Estou muito feliz por todos vocês, pelo nosso Rio de Janeiro e, principalmente, pelo Dinamite, que encerra e enterra o mirandismo na colina, aleluia!

Não seria justo não falar nada sobre o Coritiba. Guerreiro, valente, mesmo tomando um gol desestabilizante no início, o time correu muito atrás e por muito pouco não leva o título. Fatalidade, coisas do futebol. Torcedores do Coxa e todos do clube, vocês também merecem parabéns. Com a cabeça erguida o alviverde pode ir longe no Brasileirão. A Libertadores não veio agora, mas pode vir em dezembro.

Este Vasco de hoje lembra dos Vascos de que eu me lembro - Vasco do Dinamite, Cocada, Giovanni, Romário, Edmundo, Denner, Valdir Bigode, Felipe e Juninho que, ao que tudo indica, irá defender o alvinegro na Libertadores novamente. Emocionante retorno.

Pra mim, ser Vasco é...

ter vocação pra carregar uma faixa no peito

ter a alma na Zona Norte

ser gigante sem ser maioria

ter São Januário como templo e Eurico como fardo

Por fim, o mais irônico é que o vascaíno Cabral não pode ver seu time desfilar em um caminhão dos bombeiros, por motivos óbvios.

Pelo menos por hoje e por esta semana: Vasco!

* Incluem-se aí as celebridades das Séries B, C e D. Eu ainda não consegui classificação nem para a Série D.

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